Biólogos marinhos poderão te contar que algumas espécies de peixes, como o atum e o peixe-espada, conhecidos como mergulhadores de águas profundas por caçarem a 200 metros abaixo de profundidade, estão cada vez mais sendo vistos na superfície.
A razão para essa guinada de comportamento é que o aumento das temperaturas dos mares acabaram com o oxigênio da água, o que torna respirar — e que dirá, caçar — em águas profundas uma tarefa difícil para esses predadores. Quanto mais calor a atmosfera do planeta armazena, mais quente os oceanos ficam.
“Se você pensa no aquecimento dos oceanos, pense (também) na elevação do nível do mar, nas mortes de recifes de corais e na acidificação dos oceanos”, lembra o enviado especial das Nações Unidas para o Oceano, Peter Thomson, em entrevista à ONU Meio Ambiente.
“Isso (tudo) fará com que seja mais difícil para as formas de vida existentes no oceano sobreviver no oceano.”
Em diálogos sobre questões oceânicas, os efeitos dos gases do efeito estufa, como o ozônio em nível terrestre e o dióxido de carbono, não recebem tanta atenção quanto o problema dos plásticos, por exemplo — em grande medida porque esses gases não são visíveis. Mas o oxigênio é tão essencial nos mares quanto em terra. Embora as temperaturas crescentes do mar possam variar em diferentes profundidades, elas levaram zonas profundas, já com baixo volume de oxigênio, a perder ainda mais oxigênio, transformando os habitats da vida subaquática.
Um relatório publicado recentemente pela Organização Meteorológica Mundial (OMM) revelou que mais de 90% da energia armazenada pelos gases do efeito estufa vai parar nos oceanos. O ano passado testemunhou novas altas da temperatura dos oceanos a 700 metros e 2 mil metros de profundidade. A elevação bateu o recorde anterior, de 2017.
Thomson, que recebeu do secretário-geral da ONU, António Guterres, o mandato de impulsionar a conservação e o uso sustentável dos oceanos, diz que deveríamos, todos, preocupar-nos com esses dados, mesmo que vivamos bem longe do litoral, porque “para cada duas vezes que inspiramos oxigênio, em uma delas nós inspiramos oxigênio produzido pela vida no oceano”.
O Dia Mundial do Meio Ambiente deste ano foca na poluição do ar e em como podemos fazer mudanças em nossas vidas cotidianas para não só reduzir a quantidade de poluição do ar que produzimos, como também eliminar a sua contribuição para o aquecimento global.
Gases do efeito estufa são a principal fonte de poluição do ar e incluem dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e hexafluoreto de enxofre. Enquanto alguns gases são produzidos por meio de processos naturais, como a respiração dos animais e das plantas, a atividade humana, como a queima de combustíveis fósseis, a criação da pecuária e as emissões de veículos, aumentaram o volume dessas substâncias na atmosfera.
A ONU Meio Ambiente afirma que a poluição originária de fontes terrestres traz preocupações particulares para os oceanos, devido a formas reativas de nitrogênio, entre elas, o óxido nitroso — um potente gás do efeito estufa. O acúmulo de nitrogênio de emissões atmosféricas e do escoamento de resíduos, junto com o fósforo, pode provocar florações de algas que são prejudiciais à vida marinha e causam falta de oxigênio no oceano — o que, por sua vez, pode matar peixes, caranguejos, ostras e outros animais aquáticos.
“Esse problema global, comparado à questão da poluição dos plásticos, passa tipicamente ‘despercebida’, mas não é menos importante, uma vez que se soma à poluição de nutrientes (oriunda) das águas residuais, de outros escoamentos agrícolas e industriais que são levados para o meio ambiente marinho pelos rios”, afirma Christopher Cox, oficial de gestão de programas sobre poluição marinha na ONU Meio Ambiente.
Os oceanos são, de longe, o maior estoque de carbono no planeta, absorvendo em torno de 30% do gás carbônico e 93% de todos os gases do efeito estufa. Mas, por conta da expansão das atividades humanas, os mares estão lutando para acompanhar o ritmo. É por isso que a sociedade civil, os governos e as empresas têm que trabalhar juntos para reduzir os poluentes.
“O oceano tem sido um amortecedor contra a mudança extrema do clima, mas estamos pressionando os seus limites”, complementa Gabriel Grimsditch, oficial de gestão de programas para ecossistemas marinhos na ONU Meio Ambiente.
Sobre o fato de a luta contra o plástico ter se tornado o estandarte da ação pelos oceanos, Thomson afirma que isso foi “realmente útil”, pois trouxe muito engajamento público com o “ecossistema azul”, incluindo a proibição dos plásticos descartáveis em alguns países.Contudo, se quisermos preservar a vibrante vida nos oceanos, uma batalha bem maior precisará ser travada, a fim de que o mundo se mantenha abaixo da meta de aquecimento global de 2°C, definida pelo Acordo de Paris.
“Estão chamando a 25ª Conferência das Partes (sobre Mudança do Clima) de ‘a COP Azul’, um reconhecimento de que os oceanos e o clima são inseparáveis. É tudo um ecossistema só”, diz Thomson.