3 May 2019 Os dois lados da moeda do nitrogênio demanda melhores práticas de gestão

Quase 80% do ar que respiramos é nitrogênio, um gás que não é perigoso para a saúde humana. Porém, o nitrogênio também se combina com outros átomos formando compostos químicos — conhecidos como “nitrogênio reativo” ou ”nitrogênio fixado” (Nr) — que são essenciais para a vida na Terra e que, em altas concentrações, podem ser extremamente danosos para o meio ambiente. 

Reportagem

Quase 80% do ar que respiramos é nitrogênio, um gás que não é perigoso para a saúde humana. Porém, o nitrogênio também se combina com outros átomos formando compostos químicos — conhecidos como “nitrogênio reativo” ou ”nitrogênio fixado” (Nr) — que são essenciais para a vida na Terra e que, em altas concentrações, podem ser extremamente danosos para o meio ambiente.

“Juntos, os seres humanos estão produzindo um cocktail de nitrogênio reativo que ameaça a saúde, o clima e os ecossistemas, fazendo do nitrogênio um dos poluentes do ar de maior risco para a humanidade,“ afirma o relatório Frontiers 2019, da ONU Meio Ambiente. “Mesmo assim, a escala do problema continua amplamente desconhecida, não sendo levada em conta fora dos círculos científicos.”

Nitrogen
Nitratos em fertilizantes podem causar o florescimento de algas que afetam ecossistemas saudáveis. Foto: Eric Vance, USEPA

Existem quatro tipos principais de nitrogênio reativo, com benefícios e impactos ambientais diferentes: 

Amônia (NH3) é encontrada no esterco, urina, fertilizantes e biomassa queimada. É a base para os aminoácidos, proteínas e enzimas. Porém, em altas concentrações, pode causar alta proliferação de algas em lagos e formar material particulado no ar, afetando a saúde e impactando ecossistemas terrestres, como áreas de turfa e florestas. 

Nitratos (NO3) são usados como fertilizantes e em explosivos. Produziríamos somente metade de nossos alimentos sem o uso de fertilizantes como o nitrogênio e o fósforo. Porém, sua acumulação no meio ambiente pode ser tóxica para a vida na Terra. Como os nitratos são os sais mais solúveis em água, são essenciais para o ciclo do nitrogênio e uma fonte importante da poluição por nitrato. São encontrados em águas residuais, águas de escoamento superficial agrícola e na oxidação atmosférica do NOx.

NOx é um grande poluidor do ar, presente nos gases emitidos pelos exaustores de veículos, e reconhecido como catalizador de ataques cardíacos e doenças respiratórias.  

Óxido nitroso é gerado pela agricultura, indústria e pela combustão, e também utilizado em procedimentos médicos e combustíveis de foguetes. É um gás causador do efeito estufa cerca de 300 vezes mais potente que o dióxido de carbono e destrói a camada de ozônio, responsável por nos proteger de radiações nocivasOzônio a nível do solo, formado por reações entre metano, óxido nitroso e compostos orgânicos voláteis na presença de luz solar é um poluente do ar maléfico. 

Infelizmente, a crescente demanda por produtos pecuários, agrícolas e dos setores de transporte, indústria e energia tem levado a um aumento expressivo da presença de nitrogênio reativo em nossos ecossistemas. 

Enfrentar o desafio da gestão do nitrogênio é vital para atender a qualidade do ar, qualidade da água, clima, camada de ozônio e metas de biodiversidade, ao mesmo tempo oferecendo enormes oportunidades econômicas para reduzir os 200 bilhões de dólares desperdiçados anualmente com nitrogênio reativo. Uma gestão mais eficiente dos ciclos globais de nutrientes poderia contribuir significativamente para reduzir a poluição e alcançar os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. 

O Sistema Internacional de Gestão de Nitrogênio (INMS) é uma plataforma para melhorar a cooperação entre a ciência e as políticas públicas e está trabalhando para construir um consenso sobre o caminho a ser seguido. Liderado pela ONU Meio Ambiente, o Sistema Internacional de Gestão de Nitrogênio é um esforço colaborativo do Centro de Ecologia & Hidrologia e da Inciativa Internacional de Nitrogênio, com apoio financeiro do Fundo Global de Meio Ambiente (GEF) e do Fundo de Pesquisa para Desafios Globais do Reino Unido, em conjunto com contribuições de parceiros de projetos em todo o mundo. 

“Precisamos de reflexões conjuntas sobre as opções de adaptação e mitigação e estratégias ligadas a uma economia circular. Para nos auxiliar com isso, precisamos de uma avaliação global dos riscos e benefícios da alteração humana do ciclo do nitrogênio e das oportunidades para aprimoramento”, afirmou o especialista em nitrogênio Mark Sutton, diretor da ONU Meio Ambiente para o projeto do Fundo Global de Meio Ambiente e do Sistema Internacional de Gestão de Nitrogênio, que também é físico ambiental do Centro para Ecologia & Hidrologia.  

A primeira resolução global sobre o nitrogênio é um grande passo 

Na quarta Assembléia da ONU para o Meio Ambiente, realizada em março de 2019, países membros aprovaram a primeira resolução global sobre nitrogênio e apelaram para que a Diretora Executiva da ONU Meio Ambiente “considere as opções para facilitar uma melhor coordenação de políticas públicas sobre o ciclo global de nitrogênio em nível nacional, regional e global, incluindo considerações sobre a possibilidade de estabelecer um mecanismo de coordenação internacional para políticas de nitrogênio (…)”.

“Tivemos muito sucesso aqui nos últimos dias no engajamento com o Comitê de Representantes Permanentes e processos intergovernamentais por meio do segmento de alto nível do Sistema Internacional de Gestão do Nitrogênio. Isso tem permitido um rápido acompanhamento da Resolução para a Gestão Sustentável do Nitrogênio”, disse Sutton depois do quarto encontro da plenária do sistema, em abril deste ano.

“Em conjunto, isso nos dá uma excelente base para avançar uma agenda global que enfrente essa ameaça à saúde de nosso ar, terra e oceanos,” afirmou Christopher Cox, especialista em poluição de nutrientes da ONU Meio Ambiente.

“Também temos trabalhado na construção de um relatório para apoiar os próximos passos na implementação da Resolução sobre Nitrogênio e iremos desenvolver outras recomendações para a Conferência anual das Partes, em outubro”.

 

Para mais informações, 

Flora Pereira da Silva, Gerente de Comunicação e Informação Pública, [email protected].  

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